2021.04.27
"Agora que abriu a primeira competição de cinema overland em Portugal, começamos a pensar no papel do cinema quando viajamos em autonomia. Somos muitas coisas nesses momentos — realizadores, espectadores e, por vezes, críticos de cinema."
"Now that the first overland cinema competition has opened in Portugal, we start to think about the role of cinema when we travel autonomously. We are many things in those moments — directors, viewers and, sometimes, film critics."
"A viagem encontra no cinema muitas parecenças. Ainda em casa de mapa aberto sobre o colo, somos guionistas entusiasmados, escrevendo um argumento para a viagem que há-de vir. Com o guião arrumado no bolso e passado a limpo na véspera, agarramos no volante e, então, tornamo-nos realizadores, dirigindo os actores e dando instruções ao operador de câmara, gritando “Corta” apenas para ouvir o eco devolvido pela montanha. O produtor já nos havia avisado que o orçamento não vai dar para tudo, mas deixamos a fita rolar. As gravações vão avançando, take após take, cena após cena, com birras da estrela do filme à mistura. O guião, esse já anda perdido algures debaixo da mala do drone — ou estará dentro da tenda? Já nem olhamos para ele, na realidade. Fazemos o filme agora de coração, por impulso. E aqui, a viagem começa-se a distanciar do cinema.
Regressamos a casa, protelando o papel que menos gostamos — editor —, soterrados em gigabytes de imagens, vídeos “4K”, gravações de som ambiente, cabos e cartões de dados.
Mas quando começa a tomar forma, vivemos a montanha-russa de emoções, entre o cansaço e o entusiasmo. Move-nos o desejo final de ver o resultado e partilhá-lo. E, quando faltam as energias, fechamos os olhos, imaginando a nossa história projectada no ecrã de cinema."
(continua)
"The journey finds many similarities in the cinema. Still at home with an open map on our lap, we are enthusiastic scriptwriters, writing an argument for the journey to come. steering wheel and then we became directors, directing the actors and giving instructions to the cameraman, shouting “Cut” just to hear the echo returned from the mountain. The producer had already warned us that the budget will not be enough for everything, but we let the tape roll. The recordings go forward, take after take, scene after scene, with tantrums from the film's star in the mix. for him, in reality, we make the film now from the heart, on impulse. And here, the journey begins to distance itself from the cinema.
We return home, putting off the paper we least like — montage —, buried in gigabytes of images, “4K” videos, sound recordings, cables and data cards.
But when it starts to take shape, we live the roller coaster of emotions, between tiredness and enthusiasm. The final desire to see the result and share it moves us. And, when the energies are lacking, we close our eyes, imagining our story projected on the cinema screen. "
(to be continued)